Intolerância ao Erro

Produzir conteúdo artístico é um processo de existência conflitante, pois, da mesma forma que podemos ser amados pelo que produzimos, podemos ser odiados na mesma intensidade.

2012-23

      Como a arte é algo que satisfaz principalmente o subconsciente, isso a torna imprevisível. Por outro lado, diferente de outras profissões, para nós que devotamos todos os nossos esforços para a produção artística, passamos a viver em um paradoxo constante de não saber que tipo de emoção iremos evocar naqueles que leem e observam.

      E dentro dessas questões é possível notar uma constante artística que vai e volta no decorrer da história da arte: o conceito de perfeição. Todo ser humano é condicionado a selecionar o que tem ao seu redor e é óbvio que a arte não escapa desse processo de seleção.

       Mas posso dizer que a maior enganação de qualquer autor é acreditar que sua obra precisa ser perfeita para ser aceita pelas pessoas que irão consumir seu trabalho.

      Como para a arte nos dias atuais não se tem critérios que consigam digerir todas as suas variantes, percebemos que o conceito de perfeição ficou para a história da arte em tempos passados. O processo artístico é tão flexível e mutável que qualquer taxação de perfeição logo é questionada e derrubada.

      Já é de conhecimento geral que a apreciação da arte vai muito além dos quesitos técnicos de sua produção. Como disse anteriormente, é parte de um processo de satisfação pessoal do seu subconsciente, algo que normalmente no dia a dia não é preenchido e que somente a arte em sua subjetividade consegue suprir.

      Mas fica a questão: como, dentro de tantas variantes – a maioria de caráter subjetivo e pessoal -, o autor se cobra a perfeição?

      É o que eu costumo chamar de “egocentrismo artístico”. Tal termo não é novidade nem no meio formal editorial e nem no meio informal freelancer. Um denominação associada à auto cobrança constante de algo que é simplesmente impossível.

perfeição

s. f.

1. Acto de acabar ou aperfeiçoar alguma coisa.

2. O grau de excelência, bondade ou beleza a que pode chegar alguma coisa.

fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/

      O ser humano pode discorrer o quanto quiser sobre isso, mas nesse ponto ele criou uma palavra para descrever aquilo que ele não pode alcançar – algo para se almejar em uma paixão platônica. Portanto, é preciso admitir que um ser humano jamais será capaz de produzir algo de teor artístico que nunca será contestado ou questionado pelas pessoas que observam tal obra.  Justamente por isso, muitos autores morrem antes mesmo de nascerem para o mundo artístico com suas obras. É a velha história:
 
Vou refazer isso novamente pela 19ºx porque não está bom o suficiente!
 
  
E quando será bom o suficiente?
  • A resposta é bem simples: Nunca!

Anaire-Samuel-Chibi
 Deixando claro que nesse texto eu não busco negar que produções artísticas precisem de remodelações, revisões, adaptações ou mesmo de serem refeitas; mas sim questionar a procrastinação eterna da conclusão da obra em função do objetivo utópico de perfeição.

   E por que o autor se condiciona a esse ciclo vicioso? O medo pela não aceitação é fator recorrente nesse tipo de situação, tendo como agravante a intolerância ao erro. Esse desapego excessivo é algo que vem e volta na história da arte, mas atualmente o vejo como principal motivo para muitos projetos jamais saírem do mundo das ideias.

      Por que temos tanto medo de errar? Por que rejeitamos o erro? Por que Julgamos tanto assim o erro? Todas essas perguntas estão em função da busca pela perfeição utópica.

     É como se o autor tivesse a obrigação de sempre ser inovador, criativo, Pop e tudo que ele produzir ser amplamente reconhecido, citado e amado.

      Quando, na verdade, não é assim, nunca foi e, provavelmente, nunca será.

      Nesse ponto do texto faça um simples teste mental e veja se algum das frases abaixo já te impediu de terminar alguma obra:

  1. “Ainda sou verde/ iniciante para produzir algo assim. Prefiro não passar vergonha!”
  2. “Saiu um filme sobre o mesmo tema. Não é a hora. Vou esperar!”
  3. “Outro artista mais conhecido fez algo parecido. Vão dizer que o meu é plágio. Vou esperar!”
  4. “Terminei de revisar pela 3°x. Estou pensando em revisar uma 4°x.”
  5. “Fiz o início há muito tempo e a obra não combina mais comigo. Vou fazer tudo de novo!”
  6. “Não acho que esse seja o momento ideal para uma estória como a minha. Vou esperar!”
  7. “As pessoas não são sensíveis ao meu tipo de arte. Prefiro esperar um momento melhor!”
  8. “Não tenho tempo de fazer como eu quero então vou esperar ter mais tempo!”
  9. “Não acho que essa obra represente o que eu sou. Prefiro parar essa e começar outra!”

      Por que o autor nunca está satisfeito?

  •      Porque nunca estará

      A maior parte de nós tem de dosar a auto crítica para se permitir crescer sem procrastinar e se desenvolver sem estancar no ego.

     Por isso, pense naquilo que está produzindo como uma etapa, o que, de fato, realmente é. Não veja sua obra como um “divisor de águas” de sua vida mortal para o resplendor artístico profissional.

     Conclua suas produções, feche ideias e se permita seguir em frente. Não use uma obra como âncora de sua vida, mastigando e remastigando até toda a energia vigorosa de produção e criação se tornar uma penosa via crucies de remodelações inconclusivas em prol de um objetivo inexistente.

Pense, Produza, Conclua e dê mais um passo.

3 comentários Adicione o seu

  1. Priscilla disse:

    Amei essa postagem, e eu estava precisando ler algo assim.
    Se não se importarem, eu colei um pedacinho da matéria no meu blog. Dei os créditos a esse blog e coloquei o link pra quem quiser acessar.
    O link do meu blog é esse: http://priihfrasnelli.blogspot.com.br/2013/07/li-um-texto-muito-bom-hoje-postado-num.html
    Se não permitirem a reprodução do conteúdo, mesmo com o link, me avisem que retiro sem problema nenhum. ^^
    Abração!

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  2. Studio PBR disse:

    Ficamos muito lisonjeadas com o apreço, Priscilla e de forma alguma nos opomos à postagem consciente em seu blog. Acima de tudo, ficamos ainda mais felizes em saber que nosso conteúdo está auxiliando na promoção de conhecimento e perseverança ao nosso público, o que significa que nosso trabalho é efetivo em seu objetivo.
    Muito obrigada pela preferência e apoio quanto à divulgação deste blog. ;3
    E continuemos o contato, certo? Seja bem-vinda sempre aqui! ^^/
    Abração de volta! o/

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  3. Priscilla disse:

    Poxa, fico muito feliz que tenham gostado!
    Com certeza esse é um conteúdo que merece ser lido por muitas pessoas, principalmente porque às vezes o que mais precisamos é desse tipo de motivação!
    Imagina, não foi nada! Agradeço também por poder compartilhá-lo no meu cantinho hehehe. :3
    Agora que percebi que foram vocês que me deram watch no DeviantArt. Muito obrigada, é um prazer ser seguida por pessoas talentosas como vocês. *o*
    E claro, mantenhamos o contato, vou adorar!
    Abração!

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